segunda-feira, 7 de junho de 2010

SECO
Te vi com um olhar seco. Por pouco não tropecei na amargura do seu coração. Percebi que não era o meu olhar que lhe tirava a vida e sim o seu escudo que ofuscava minha visão. Lembrei-me do agreste e vislumbrei em seu ventre aquela paisagem. Árido por natureza. Quebrantou o que de mais puro habitava em mim. Meu olhar inocente foi desviado para o caminho sem volta que se desenhava a minha frente. Ousei segui-lo com a indiferença de sua existência que ainda estava impregnada em minha mente. Não olhei pra trás, mas senti-o chorando. È certo que suas lágrimas eram secas. Não tocavam o chão. Imaginei a dor que poderia sentir, mas lembrei-me que seu egoísmo não lhe permitia sentir dor. Descobri a sua força ao constatar sua imunidade ao sentimento. Neste momento o invejei ao mesmo tempo em que me esforcei para não ceder a tentação de te acolher novamente. Foi difícil. Me desvencilhei daquela cena. Respirei. Levantei e corri até meus pés não mais agüentarem suportar a dor. Invejei-o novamente. Não era a dor dos pés e sim do coração que pulsava em descompasso com os pensamentos que insistiam em me atormentar naquele instante. O vi novamente deitado em posição fetal, nu e reluzente feito prata. Era desesperador vê-lo e não tocá-lo. Precisava voltar e te levantar. Não suportava a sensação em deixá-lo pra trás caído feito um derrotado, mas por outro lado nunca me senti tão livre e confiante. Precisava acertar os meus passos, os meus pensamentos e ajustar minhas batidas cardíacas. Recompus-me. Enxuguei a única lágrima que insistiu rolar em minha fronte. Constatei que a estrada não se acabava, mas sua presença morria a cada passo dado. Insisti em passadas mais largas para que você não se recuperasse e seguisse em minha direção. Não suportava a sensação de ter que encará-lo novamente. Aos poucos fui apagando as marcas que você deixou em mim. Percebi que ao apagar a ultima marca o caminho chegou ao fim, tal qual o rio amarelo na China. Não tive outra opção. Sentei e ali fiquei e acabei-me morto de mim mesmo.

Um comentário:

  1. nossa valeu a pena,
    apenas, esperar tanto por uma postagem.
    mto suave o texto.

    ResponderExcluir